quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Notas para a leitura de o Jardim das Aflições

Ao ler as notas introdutórias feitas por um aluno do Olavo de chamado Dante Mantovani, resolvi fazer as minhas próprias anotações sobre o livro Jardim das aflições. Atente-se, primeiramente, a dois fatos o leitor: (1) não sou aluno do Olavo de Carvalho a tanto tempo quanto o Dante e (2), como se depreenderá da leitura das notas, não possuo a finesse gramatical nem musical do aluno supracitado (é possível até ver aquela impessoalidade clássica que os alunos universitários têm, produzindo um texto como se fosse um artigo científico em tom analítico). Então vamos às notas:

  • A estrutura do livro, como foi explicitada diversas vezes, é uma coisa primorosa. Não possuo aqui o trabalho de mostrar, como fez Dante, a influência recíproca que a música possui na atividade literária. Pretendo aqui mostrar minhas impressões à respeito. Voltando a estrutura, ela traz uma tensão que a mim agradou muito, a do particular e do geral. Remeto agora o leitor a uma segunda leitura, o livro Imbecil Coletivo, cujo propósito é documentar abundantemente os fatos narrados no Jardim. Neste livro o fato que tirou noites de sono do Olavo de Carvalho é repetido inúmeras vezes. No início do Jardim, Olavo mostra um fato que marcou muito seu interior e do qual não poderia deixar passar em branco. Se fossemos olhar assim diríamos que não se passa apenas de um trabalho de um polemista cuja intenção é expressar sua indignação diante de um palestra promovendo apenas um "debate". Porém, fica claro no decorrer do livro que este caso pontual e ínfimo tem por baixo del todas as características encontradas nas diversas situações mundiais. Olavo então retira desse fato conjunturas de caráter gloval e que marcaram a história das idéias do Ocidente. Retira do Jardim Epicúreo todo o drama das nossas aflições atuais.
  • Ainda na estrutura: na introdução do livro, em sua palestra de lançamento da terceira edição e em alguns programas do True Outspeak Olavo nos mostra aquilo que foi explicado por Dante. Diz Olavo "é preciso ter ouvido". Realmente. É preciso ter ouvido para captar as nuances musicais que ecoam do Jardim. A composição da obra é parecida com a Ópera de um compositor chamado Sibelius. Mais ainda, Olavo nos diz que a estrutura é de tipo espiral sinuosa. Tentei perceber esta estrutura, não consegui. Na minha leitura não consegui ouvir as notas que se mostravam diante de mim. Porém, ao ler análises e escutar um pouco da obra de Sibelius percebi o que outras já haviam citado diversas vezes. Os diversos temas que são evocados no livro, pequenos temas em volta de um tema maior, possuem seu lugar próprio e são destacados, desenvolvidos e reincorporados ao tema principal. Para mim a estrutura do livro parece um amálgama que está ligado por um fator unificante (desculpem a imprecisão, mas realmente não consegui buscar expressão melhor). Surge um emaranhado diante do leitor que, somente nas últimas páginas, a obra revela-se como harmônica. Para mim isso explica o pedido do autor no início do livro que acompanhasse a exposição da maneira que foi constituída o livro, pois se não fosse feito assim o desabrochar não poderia ser visto.
  • Em diversas vezes também Olavo fala que as notas de rodapé que constituem o livro são propostas temáticas que deveriam ser estudadas e que, limitado por seu pequeno tempo de vida, não poderia ele fazer. Vejo também que os próprios temas, os quais são desenvolvidos no livro, constituem uma introdução a estudos posteriores e ao próprio esforço de compreensão do filósofo. Retiro aqui alguns exemplos:

  1. No capítulo sobre epicúreo, Olavo desenvolve dois temas que me parecem grande importância de sua filosofia. Ao descrever os processos de manipulação psicológica e o mal que eles fazem a inteligência humana, ele traça dois rumos que constituem sua filosofia. A primeira é o próprio diagnóstico da situação corrente, a qual ele dá inúmeras linhas para descrever e mostra que um ramo de seu “sistema” é a psicologia. O segundo é a descrição de uma cura. Ao qual ele dá alguns insights e que fica clara no início do COF e em algumas passagens do True OutSpeak. A cura é a centralidade da consciência, descobrir qual é “a sua voz”. Entra nisso a concepção de “testemunha solitária” na qual aparece implicitamente nas páginas de o Jardim das Aflições. Esta testemunha é aquela onde a veracidade da fala é total pois a experiência foi vivida por ela. Nisso Olavo nos ensina que o Tetrafarmacon de Epicuro é um sonífero para nossa alma e que a verdade é o remédio para a sonolência que nos é imposta pelos tempos presentes.
  2. A exposição da idéia de Império que é constituída no V capítulo é, a meu ver, um dos temas centrais da filosofia política de Olavo. Com o desenvolvimento desta ideia de Império surge um refinamento maior dessa que é complementada no posfácio e em alguns outros livros dele. Surge como avanço e novas descobertas a Teoria dos Três esquemas globalistas, que hoje já estamos bem familiarizados. Neste último capítulo surge a idéia da atividade das sociedades secretas na tomada do curso das ações históricas.
  3. Outra exposição que é feita por Olavo é do advento dos dois movimentos New( New Age e New Left). Estes dois fenômenos são abordados diversas vezes pelo filósofo, como no livro que antecedia o Jardim “A nova era e a revolução cultural”. Em diversas oportunidades, Olavo traz de volta o tema da influência destes dois movimentos na cultura mundial. A Nova Era é a nova religiosidade e a New Left a nova intelectualidade. Neste tema é cabível uma relação com a teoria dos esquemas globalistas pois estes dois movimentos provêem destes esquemas. Depois, em uma palestra sobre a Escola de Frankfurt, Olavo fala que a revolução cultural anteriormente atribuída a Gramsci na verdade foi desenvolvida por Stalin desde a década de 1920. Com relação a Nova Era em aulas recentes ele retomou o tema e mostrou como os grupos esotéricos que eram contrários a New Age acabam sendo absorvidos e usados por ela. É claro que aqui caberiam outros nexos que podem ser feitos, mas por imperícia do escritor destas notas e ignorância não consegui desenvolver outros.
  • Uma outra característica que me chamou a atenção foi a seguinte: quando comecei a ler a  exposição da filosofia epicureana me deparei com um problema interessante...Olavo não usava citações diretas do autor comentado. Nisto me veio uma passagem do programa  True OutSpeak na qual o filósofo comentando a tragédia intelectual brasileira remetia o ouvinte a uma característica da prosa de Carpeaux que era obrigação do leitor culto saber, o tal do discurso livre indireto. Como não sou leitor culto, o que a própria confecção destes parágrafos prova minha inépcia, só consegui captar esse detalhe por causa da advertência que o professor fez e que não sei se é apenas uma invenção da minha cabeça ou se foi obra da criação literária do autor.
  • Por fim, uma pequena constatação. A primeira é que praticamente todo o livro é feito na primeira pessoa, motivo que, para mim, mostra que o autor esta buscando a verdade e que a obra escrita seria o testemunho que ele fez para expor uma situação que a priori abalou interiormente e que ao ser exteriorizada para outras pessoas causa uma experiência de descoberta enorme. A figura utilizada na introdução do livro é perfeita. É literalmente uma “tirada de tampa da  marmita”. A realidade se mostra para a pessoa como a comida que está dentro da marmita. 

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